Depois de um dia cansativo de aula, ao chegar em casa, o que a maioria dos alunos quer é, na verdade, um bom descanso. Mas, opa! Espere um minuto. Tem lição de casa!
Nessa hora, é bastante comum observar a “preguicinha” de realizar as atividades trazidas da escola. Por isso, o incentivo e o interesse da família são muito importantes. Além disso, a escola também precisa elaborar atividades desafiadoras, que instiguem as crianças e os adolescentes e que colaborem no processo de aprendizagem. Em alguns casos, o assunto traz um certo desconforto.
O processo de aprendizagem
Para os professores, pensar diariamente em lições de casa relevantes, adequadas e que realmente ajudem no aprendizado dos conteúdos programados, é um desafio.
Para os pais, trata-se de uma incógnita: muitas vezes, parece que há tarefa demais. Outras, de menos. Em certos casos, fica a sensação de que é errado a criança precisar de ajuda para realizar a tarefa (o que nem sempre é verdade, pois alguns tipos de tarefa podem requerer, sim, a participação estratégica da família).
Para os alunos, é difícil entender a importância da lição de casa, podendo gerar sentimentos conflituosos.
Há aqueles perfeccionistas, que não admitem o erro e que buscam fazer o que imaginam que o professor deseja ver. Outros fazem disso um pretexto para ter a presença e a atenção dos pais. Há os que se esquecem de fazer ou de levar a lição. Os que deixam sempre para mais tarde e acabam sem tempo. Mas, em muitos casos, a tarefa é tirada de letra, pois existe uma rotina estabelecida.
A importância da lição de casa
Em primeiro lugar, é fundamental entender a importância da lição de casa, já que se trata de uma parte significativa do processo de aprendizagem escolar.
Segundo a educadora Eliane Palermo Romano, em seu texto Lição de casa – que prática é esta?, as tarefas são “uma oportunidade de autoaprendizagem, autoconhecimento, de reflexão, de expressão e de crescimento pessoal do aluno”.
Para isto, continua a autora, “é preciso repensar duas crenças arraigadas: a de que a tarefa de casa tem como objetivo que o aluno aprenda o que foi trabalhado em classe, fazendo exercícios repetitivos e mecânicos; e a crença de que a obrigatoriedade da lição diária gera, por si só, a responsabilidade e o hábito de estudo”.
Trabalhar com atividades escolares criativas
As atividades devem ser criativas, dinâmicas, interessantes e desafiadoras. Só assim farão sentido para o aluno e despertarão, por meio do estímulo, o gosto pelo estudo e pela reflexão.
Despertando a consciência e o senso crítico
É o que faz a professora de História e de Sociologia, Mônica Perolli Broti. Suas tarefas nunca são repetitivas e passam bem longe de exercícios de pergunta e resposta para memorização.

Recentemente, ela passou como lição de casa a leitura de um texto de Marcelo Coelho, colunista da Folha de S.Paulo, tema que depois foi debatido em sala de aula. “Procuro fazer meus alunos interpretarem o cotidiano que vivem”, explica.
O texto tratava de uma crítica a humoristas, populares entre o público jovem, que divulgaram piadas antissemitas e ofensivas em shows ou pela internet. No debate, os estudantes trouxeram posições e análises críticas, ponderando que o humor precisa de limites quando fere os direitos humanos.
Em outra lição de casa, Mônica usou como mote a proibição do véu das meninas muçulmanas em escolas francesas. A tarefa, dada ao 7º ano, era para que os alunos se organizassem em grupos e montassem um tribunal. De um lado, garotas vestidas com o véu e seus advogados, reclamando o direito à livre expressão da religiosidade. De outro, autoridades francesas defendendo a laicidade do estado.
“Foi muito interessante. Eles aprenderam conceitos como julgamento, sentença e democracia. Um de meus alunos chegou até a estudar a Revolução Francesa, que é um conteúdo do ano seguinte, para criar sua argumentação”, conta Mônica.

Trazendo as questões biológicas para o dia-a-dia
O professor de Biologia, Alex Fernando Garrido, também procura oferecer atividades que façam sentido aos alunos. Recentemente, eles analisaram o que é jogado no lixo da escola e qual o valor financeiro dos resíduos. Muitos se espantaram com o valor comercial de materiais que, aparentemente, não valeriam nada por estarem no lixo, como o alumínio.
Alex também solicitou, em outro exercício, a participação das famílias. Para trabalhar conceitos de genética, pediu aos alunos que investigassem sua árvore genealógica.
Em outra ocasião, os estudantes registraram a distância percorrida de casa até a escola e o tempo que levaram para fazer o trajeto. Depois, calcularam a velocidade média.
“Só depois mostrei a fórmula de física. O conteúdo é a aplicação dela, e não a fórmula em si. A lição de casa primeiro mostrou sua utilidade. Assim, a matéria faz sentido”, explica Alex.
A importância de estudar um novo idioma
No Ensino Fundamental, a professora de Língua Inglesa, Juliana Navi do Nascimento, também usa recursos instigantes para mobilizar os alunos, fazendo-os entender a importância da lição de casa. Para isso, ela promove jogos, brincadeiras e competições.
Em um dos exercícios, por exemplo, os alunos precisaram elaborar uma série de perguntas e respostas, com as quais desafiariam os grupos rivais.
“Essa é uma maneira de estudarem, uma vez que, para fazer perguntas coerentes, precisarão entender a matéria”, diz Juliana.

Além do desenvolvimento no processo de aprendizagem, outro objetivo da lição de casa é despertar no estudante a responsabilidade que ele deve ter com o próprio crescimento. Por isso, a professora Marcia Regina Teixeira Garcia, que coordena a área de Inglês e leciona para o Ensino Médio, sempre oferece, além das lições sistemáticas, diversas atividades opcionais.
Ela publica no site da escola séries de exercícios, todos com explicações introdutórias e gabaritos com respostas. Faz quem quer.
“Explico a eles que o avanço de cada um depende do quanto fizerem por si mesmos. Dou exercícios opcionais para mostrar que eles não podem ser passivos diante do próprio aprendizado”, afirma Marcia.
Para otimizar o tempo e adiantar a lição de casa, muitos alunos, diariamente, frequentam a biblioteca do Colégio São Judas Tadeu, referência em escola na mooca.
A bibliotecária Neuza Dantas de Alencar conta que, no local, os alunos aproveitam o silêncio e o ambiente propício aos estudos para fazer a lição de casa. Além da graduação em biblioteconomia, Neuza fez duas especializações: em Leitura e Produção Textual e em Língua Portuguesa e Literatura. Dessa forma, ela colabora significativamente com os estudantes de todos os níveis de ensino durante a execução das tarefas.
“Muitos alunos, principalmente no Ensino Médio, têm dificuldades com narração, descrição e redação e eu os ajudo. Eles adoram este espaço porque estão na companhia dos colegas e podem consultar livros e tirar dúvidas”, afirma.
Neuza, que é mãe de quatro filhos e acompanha a lição de casa de mais um tanto de alunos na biblioteca, dá algumas sugestões aos pais.
“Assim como na biblioteca, é importante ter em casa um ambiente para que o estudante possa ter sossego e fazer a lição, ler. Além disso, mesmo que os pais não gostem muito, é fundamental dar o exemplo da leitura aos filhos, verificar a agenda, envolver-se nas tarefas e mostrar interesse”, completa.

Desenvolvendo a responsabilidade escolar
Na Educação Infantil e nas séries iniciais, a lição de casa faz parte do relacionamento da criança com os estudos e suas obrigações. A escola tem o papel de sistematizar atividades que favoreçam o processo de aprendizagem. Além da fixação do conteúdo, é importante a responsabilidade que, aos poucos, a criança irá adquirindo, para entregar uma tarefa em ordem, limpa, sem rasuras, tendo comprometimento com a escola.
A professora Simone Gusman Gomes, que dá aulas para o 3º ano do Ensino Fundamental, envia todos os dias o caderno com as tarefas de casa. E faz as correções diariamente. “É uma estratégia para acompanhar o desenvolvimento de cada um, perceber as dificuldades e poder melhorar o aproveitamento escolar.”, diz.
Como forma de estimular as crianças nas tarefas de casa, a professora Denise Diogo, do 1º ano, costuma solicitar atividades que usem e abusem da criatividade. Ela manda materiais diversos para casa, como cola, lantejoulas, barbante e palitos e solicita tarefas que tenham a ver com o que está sendo visto em sala de aula.
“Eles ficam muito felizes e valorizados por levar lição para casa”, diz Denise.
A diretora da Educação Infantil, afirma que, sempre que possível, os pais poderão acompanhar o filho nas tarefas, reforçando o conteúdo aprendido, porém, deixando-o fazer sozinho e, se necessário, com alguma explicação.
“É uma forma simples de pais e filhos trocarem ricas experiências que irão contribuir para o desenvolvimento da criança. Esse momento precisa ser prazeroso, sem que os pais apontem erros, mas, sim, reforcem conquistas”, diz.
Para a coordenadora Mônica Miotto Bertolini, os pais devem ajudar no que for possível, mas sempre respeitando a forma como o aluno está aprendendo um conteúdo.
“Muitas vezes, na ânsia de ajudar, os pais se atrapalham porque não aprenderam da mesma forma, por exemplo, os cálculos matemáticos”, afirma.
Assim, querendo ajudar, é possível que a família até confunda a criança. Para possibilitar vivências em família em torno da vida acadêmica das crianças, a professora Denise Diogo também solicita tarefas que requerem a participação direta dos pais.
Recentemente, para aprender conceitos de temporalidade e trabalhar com a memória afetiva e a identidade dos pequenos, cada um trouxe de casa fotografias de três épocas distintas de suas vidas e o relato das famílias.
Os pais têm percebido a importância da lição de casa, enxergando-a como algo que vai muito além do rendimento escolar.

A professora Simone Dias, do infantil do período da manhã, ressalta que, muitas vezes, as crianças pequenas voltam para a escola sem fazer a lição de casa. Alguns pais acreditam que, por estarem na Educação Infantil, a falta da lição de casa não implica em prejuízo, o que não é verdade.
“Além de perder o conteúdo, a criança se sente muito mal quando vê que os colegas fizeram a lição e ela, não. Isso causa tristeza e o rendimento cai. É preciso valorizar a lição de casa, olhar a agenda e conferir o material da criança diariamente”, orienta Simone.
São cuidados que começam desde cedo, mas que refletirão no desenvolvimento do aluno por toda a vida.
Dicas de estudo para aumentar a produtividade
- Determine um horário para realizar as tarefas, bem como um local tranquilo
- Faça uma lista das atividades e sempre analise se o tempo está sendo bem aproveitado
- Dê prioridade às atividades mais importantes ou mais difíceis
- Se houver muitas tarefas a serem feitas, reserve um tempo para descanso (sem exagero)
- Preste muita atenção nas orientações do professor quando ele passa uma lição
- Procure não “ligar o automático”. Envolva-se na tarefa e pense sobre o que está fazendo
- Quando puder, execute exercícios opcionais (quanto mais você se dedicar, mais aprenderá
- Assistir à aula não é apenas estar presente. Aproveite, preste atenção e tire dúvidas
- Não deixe dúvidas para depois. Pergunte sempre, pois o professor está ali para isso
- Tome nota das aulas. Use letras maiúsculas, cores e grifos para destacar pontos importantes
- Nas anotações, deixe espaços em branco para, depois, estudar e anotar ideias e dúvidas
- Procure revisar as notas depois de cada aula, e não somente em véspera de provas
- Faça resumos usando suas interpretações (não vale recopiar o conteúdo de forma mecânica)
- Antes de ler, olhe rapidamente todo o texto e calcule o tempo necessário para a leitura total
- Durante a leitura, pare periodicamente e reveja mentalmente os pontos principais
- Ao final, olhe novamente o texto no geral para uma rápida revisão
- Ao encontrar dificuldades em partes importantes do texto, volte a elas sistematicamente
- Usar técnicas eficientes de estudo será muito útil durante toda sua vida profissional
Fonte: www.colegiosaojudas.com.br
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